Cada folha que cai ao sabor da brisa,
Ondas do mar por sobre pedra acima.
Sou apenas gota d'um imenso mar,
Pedra bruta que desconhece ainda
Os segredos d'agua, fogo e verbo amar.
Cada dia é apenas vôo impreciso e ritmado
dum tempo que me foi predestinado:
viver é seguir um ciclo renovado.
A chuva inunda pasto, faz corredeira,
Meu coração é esse vale aberto,sem qualquer critério,
por onde escoa o medo da morte e da maré cheia.
Há na estrada tanto sol, poeira, cansaço...
Quem há de atrever-se nessa caminhada
se o destino é só incerteza a cada passo?
A noite tambem imprime em mim a sua hora,
é tênue véu que me a recobre a tez
e suas estrelas sempre vem e vão embora.
Mas, se meu destino é não ter nada,é não ter rumo,
é ser folha sêca em meio a vendaval,
é ser grão e pólen ou ave sem prumo.
Devo renovar o meu olhar a cada instante:
sou pássaro livre a buscar no céu
o interminável giro da sextante.
Autoria de Márcia Tigani
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